Sorte. Muitas vezes, quando ouvimos: “você deu sorte”, nos apressamos em dizer, quase sempre irritados, que não foi sorte, foi preparação, foi talento, foi trabalho, etc. Mas por quê? É ruim ter “sorte”? Claro, não estou dizendo que SOMENTE sorte irá produzir bons resultados. Em qualquer coisa, desde uma viagem de moto até a nossa carreira profissional, preparação e trabalho duro são fundamentais. Mas ter sorte não é ruim.

Claro, muitas vezes também aquele “amigão” que disse que você teve sorte, quer reduzir todo o seu trabalho duro, sua preparação e sua habilidade simplesmente a isso: sorte. E mais nada. Como se você tivesse ganho na loteria, por exemplo, onde nada mais é preciso senão sorte.

E foi ouvindo uma entrevista de uma atleta profissional – que confesso não conhecer e sequer lembrar o nome (ela pratica escalada e se referia à sua última conquista: subir a terceira maior montanha do mundo sem auxílio de oxigênio) – que eu me toquei. Ela disse: “…sim, dei sorte. Estava preparada para o desafio mas dei sorte sim”, respondendo a um repórter.

Foi aí que me dei conta do óbvio: de fato, ter “sorte” é muito melhor do que não ter. Principalmente para nós, motociclistas (e outros esportistas, viajantes e aventureiros) que dependemos de condições climáticas, condições de estrada, trânsito, e uma série enorme de variáveis para que uma aventura seja plena. Vários percalços e pequenos probleminhas chatos podem acontecer durante uma viagem de moto e, eventualmente, podem tornar a viagem muito mais difícil ou até mesmo nos obrigar a encerrar a viagem precocemente.

Enfrentar dias seguidos de chuva não é legal quando se precisa rodar várias centenas de quilômetros sob baixa temperatura. Furar um pneu no meio da Ruta 03, lá na Patagônia, no meio do nada, também não é legal. Encontrar postos de gasolina fechados ou sem combustível, greves de funcionários aduaneiros e assim por diante, são algumas das coisas que não estão sob o nosso controle e que, eventualmente, podem ocorrer. E é aí que entra a sorte.

Sorte, no nosso caso, é tudo aquilo que não temos controle, vir a acontecer favoravelmente.

Em 2013 encarei uma nevasca no Peru, a caminho de Arequipa. Ficamos algumas horas parados no trânsito bloqueado, no meio da Cordilheira dos Andes, perto de Lagunillas, e depois tivemos de trafegar com as motos numa pista que tinha 10 cm de neve, água gelada escorrendo pelas “trilhas” dos pneus de carros e – para completar – estava escurecendo. Nenhum dos quatro pilotos caiu ou sofreu qualquer problema. Virou história para contar. Sorte ou azar?

Por isso, hoje, sempre que algum “amigo” diz que dei sorte na viagem (planejada por um bom tempo), que dei sorte em fazer determinada foto (fruto de preparação e estudo da luz), que dei sorte em escolher determinado caminho em detrimento de outro (após uma avaliação minuciosa do roteiro), ou outro tipo de sorte qualquer, eu simplesmente agradeço. E peço a Deus que eu continue tendo sorte para sempre!

Autor: Felipe Ribeiro