Amanhã começo uma nova viagem de moto, depois de quase quatro anos fazendo viagens menores, de até 2.000/3.000, dentro do Brasil. Desta vez volto a fazer uma viagem mais longa (8.000 km), com vinte dias na estrada e  que terá como destino o noroeste argentino. O motivo deste lapso de quatro anos entre a última viagem mais longa  e essa, responde pelo nome de Fernando e tem pouco mais de 85 cm de altura, 14 kg e um ano e oito meses de vida. Daí o título do artigo: é minha primeira viagem como “pai motociclista”…

Minha esposa engravidou em nossa viagem de 2014 e desde então voltei meu foco 100% na concepção e criação do nosso filho, em parceria com ela, ajudando no que me é possível. Porém estava (e ainda estou) sofrendo de abstinência de estrada, e isso tem afetado meu humor e até, confesso, minha paciência com ela e com o Nando. Sei lá. Falta um “pedacinho” de mim, sabe?

Só que, por outro lado, eu e meu filho somos muito agarrados. Por trabalhar em esquema home-office e só ir ao escritório duas vezes por semana, ouço “Papaaaaiiii, papaaaaiii” o tempo todo…e não dá pra resistir, né? Vou lá ficar com ele sempre que posso. E quando ele está só com a mãe (90% do tempo), vive perguntando pelo “Papaaaaiiii”…rs

Fernando, imitando o pai e o tio, com uma chave de estria na mão…rs

Meu coração está muito dividido. Sentimentos controversos. Sei que preciso estar inteiro para poder estar bem, com ele (e com a patroa, claro). Senão, mais cedo ou mais tarde, eu vou ficar com aquele gostinho de frustração por ter aberto mão de algo tão importante na construção de quem eu sou. Mas deixá-lo por vinte dias não vai ser fácil.

Ok, ok… tem internet, WhatsApp, Facetime, etc.etc.etc… mas não é a mesma coisa. A relação com um filho de um ano e oito meses é muito mais física do que intelectual. É abraço, beijo, brincadeiras, jogar ele pra cim… err, tô brincando amor, isso de jogar pra cima eu disse que ia parar de fazer e parei, ou quase…rsrs. Enfim, dizer “Oi filho” vendo a carinha dele no celular é legal, mas não tem beijo, abraço, etc… não substitui.

Só que eu não sou só pai. Eu sou pai, sou profissional, sou motociclista, sou surfista, sou fotógrafo, gosto de videogame, de comer chocolate… enfim, sou – como todos nós – um ser complexo. E todas essas “facetas” me completam e fazem de mim um homem melhor. Um pai melhor e um marido melhor. Não dá pra simplesmente tirar uma delas da equação – viagem de moto – e querer o mesmo resultado final, né?

Bom, escrevi esse texto mais como um desabafo, sei lá, e não porque eu precise de apoio ou críticas. Até porque a decisão já foi tomada quando dei OK para os parceiros desta viagem de moto. É apenas uma maneira de eu poder botar pra fora esse turbilhão de sentimentos novos que me invadiu, na véspera da viagem. Viajo de moto desde sempre, para o exterior desde 2006, então – confesso – não achei que pudesse ter “novos sentimentos” à esta altura do campeonato. Mas estou tendo. Dessa vez como pai motociclista viajante.

Boa viagem para nós… e vamos nos falando por aqui.

Autor: Felipe Ribeiro