…gritava o narrador na abertura do campeonato brasileiro de motocross, em Carlos Barbosa- RS, no início de 2004, ao começar ler um texto com o título “O que move a paixão”, tendo ao fundo o ronco dos motores e o som de Vangelis- Conquest of Paradise. E eu me desmanchando em lágrimas, do alto da arquibancada, apoiado nas muletas, com a perna há poucos meses amputada, sentindo uma mistura de emoção e tristeza, tentando entender minha paixão por motociclismo mesmo com tantas dúvidas e certo medo de não conseguir mais pilotar.

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Uma viagem como essa que fizemos pro Chile mexe muito com a gente, e nos faz muito bem. Passamos horas refletindo, muitas lembranças vem à mente, e, se por si só a viagem emociona muitos pelas paisagens, em determinado momento tive essa lembrança, com todos os detalhes, e, não pela primeira vez, me arrepiei e chorei no capacete. Chorei, sem vergonha de me emocionar, porque caiu a ficha do que eu estava fazendo e do que eu passei pra chegar até ali. Chorei porque me lembrei da dor sem limites, do medo, da angústia, da agonia, do desespero e de alguns NÃOS que tive que ouvir.

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Mas chorei principalmente porque lembrei o carinho, a força, a paciência, a fé… de todos que me ajudaram. Lembrei-me das tantas revistas de viagens de moto que li ainda no hospital. Lembrei que quando voltei pra casa depois de 33 dias em Porto Alegre, o pátio estava cheio de gente da minha querida “Arroio Augusta” me esperando. Lembrei que ninguém foi contra minha vontade de pilotar e de todo apoio que recebi. Lembrei-me de tantos que confiaram no meu trabalho, e que não duvidaram de minha capacidade. Lembrei, e nunca esqueço, que sem família e amigos eu não conseguiria nada.

Abri a viseira pra secar as lágrimas com o vento da cordilheira e segui… feliz como nunca, ou melhor, como sempre!

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09/11/2016, 13 anos do acidente.

Autor e fotos: Mateus Erthal